Satélite faz foto?

Published: Jul 10, 2012 by CarlosGrohmann

Uma das coisas que me irrita é ouvir ou ler “fotografia de satélite”. A expressão é muito comum em reportagens.

Sempre que começo a ler uma matéria que trate sobre aplicações das imagens (spoilers) de satélite, até tento me preparar psicologicamente, mas, inevitavelmente, chega o ponto em que “as fotografias do satélite X mostram que…” ou onde “cientistas analisaram fotos dos satélites…”. Gente, na boa, isso dói. Tudo bem que queremos divulgar o conhecimento a todos, usar linguagem simples e fugir dos jargões acadêmicos mas, neste caso, usar o termo correto (imagem) não faz mal a ninguém.

Imagem? Sim, imagem de satélite.  

Mas as fotos não são imagens? Sim.  

E as imagens não são fotos? Nem sempre.  

Vamos lá: Aqui precisamos definir o que é uma fotografia. Fotografia (do gregos, photos = luz, + graphos = desenho, escrita) é “a técnica de criação de imagens por meio de exposição luminosa, fixando-as em uma superfície sensível” (dá-lhe Wikipedia).

Para obter uma fotografia, a câmera precisa de um conjunto de lentes para focar a imagem, um elemento sensível à luz (seja um sensor digital fotográfico ou um filme fotográfico) e um obturador, que permite que a luz passe pelas lentes e atinja o filme ou sensor. Veja que quando o fotógrafo dispara a câmera, o obturador abre e a luz da cena é captada pelo sensor ao mesmo tempo. Não importa se a luz está sendo registrada por um sensor digital ou por compostos químicos presentes no filme fotográfico, o que importa é que a luz da cena toda foi captada ao mesmo tempo.

Já em um sensor não-fotográfico, uma “cena” ou “imagem” é composta a partir de informações captadas em momentos diferentes. Pense em um scanner. Quando você escaneia (escaneriza, digitaliza, sei lá) um documento, um sensor (aquela luzinha do scanner) “varre” o documento original e produz uma imagem final que não foi captada toda ao mesmo tempo, mas aos poucos. Essa imagem resultante não pode, portanto, ser chamada de “fotografia”. Deixando um pouco de lado as diferenças entre os tipos de sensores que encontramos nos satélites, podemos fazer uma analogia entre as imagens de satélite e o documento escaneado. O sensor que está em órbita vai “escaneando” a Terra continuamente, e as imagens que utilizamos são na verdade compostas por partes que não foram adquiridas ao mesmo tempo (apesar do satélite ser bem rápido, a aquisição não é instantânea). Ou seja, não são fotografias.

Resumindo, todas as fotografias são imagens, mas nem todas as imagens podem ser chamadas de fotografias. Nesse momento é sempre bom lembrar o que eu sempre digo aos meus alunos:

 

Certo?

EDIT: Só pra completar, como bem disse o **@EricFielding**, nos anos 1960 e 1970, diversos satélites fizeram fotografias de verdade, como os satélites Corona (http://en.wikipedia.org/wiki/Corona_(satellite)) que levavam câmeras fotográficas a bordo e depois de fotografar uma área de interesse, tinham que ser capturados no ar, antes de se chocarem no solo.

Comments

Luiz Amadeu Coutinho: Excelente texto. Essa confusão irrita demais. Parabéns pelo Blog.

carlosgrohmann: Obrigado!

Eric Fielding (@EricFielding): This is true about all modern satellites, but was not always true. In the 1960’s and 1970’s there were some satellites that took photographs, using film that was then dropped and retrieved. One example is the Corona series: http://en.wikipedia.org/wiki/Corona_(satellite)

carlosgrohmann: Yes, thanks for the note, but I wrote post thinking about modern satellites and the general misunderstanding about “satellite photos”. best Carlos

photo remote-sensing teaching

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